Pedro Duarte, um jovem transexual de 22 anos, pratica Culturismo de forma amadora, com um grande desejo de poder chegar a competir e ganhar prémios. No dia internacional de Luta contra a Homofobia e a Transfobia, é apresentado um testemunho de um homem transexual envolvido no mundo do desporto.
Fonte: Fotos de Pedro Duarte
Culturismo, ou em Inglês Bodybuilding, é um desporto que está a crescer em Portugal. Consiste no desenvolvimento de musculatura, de modo a que se reveja no corpo visualmente. Quando os culturistas chegam às competições, o principal objetivo passa por realizar poses que saliente diversas caraterísticas, tais como simetria, tamanho, musculatura. A apresentação em palco também se demonstra bastante importante. Em Portugal, são apresentadas as competições que os atletas competem e quais os diversos resultados na página oficial do IFBB Pro Portugal (IFBB=International Federation of Bodybuilding and Fitness).
Voltando a Pedro, o mesmo falou-nos um pouco sobre como entrou neste desporto, quais os principais objetivos e metas, mas principalmente qual o impacto que tem no facto de ser transexual.
Há quanto tempo praticas Bodybuilding?
Eu pratico ginásio há 4 anos, mas descobri este mundo e venho a dedicar-me a ele para competir há 2 anos.
Começaste já no desporto como Pedro?
O ginásio permitiu que tivesses o maior conforto possível. E os restantes participantes? profissionais, colegas, frequentadores do ginásio, todos estão a par de que é transexual? Alguma vez sentiste algum tipo de discriminação?
No início só sabiam as pessoas com quem eu me fui inscrever e falar sobre o assunto, só que mais tarde quando comecei a evoluir no ginásio e repararam em mim, ficaram a par da minha transição. Eu até cheguei a fazer um vídeo para o ginásio com o meu testemunho e a contar um pouco a minha história. Por isso, agora acho que acaba por toda a gente saber e para já não tive nenhum tipo de preconceito lá dentro.
"As pessoas acho que até começaram a admirar-me mais, porque não tinham noção do que eu tinha passado. se bem que eu sei que com outros muitos, acontece esse preconceito. "
O que te motivou a começar a praticar este desporto?
Eu já pratiquei muitos desportos e sempre adorei, mas não era algo muito duradouro. Estava um tempo e acabava por desistir. Até que depois de algum tempo no ginásio, estava com um bom peso, mesmo nunca tendo feito nenhuma dieta. Via pessoas a ficar com músculos e gostava de ver e aliás a minha maior inspiração foi o Arnold Schwarzenegger (Grande personalidade no mundo do culturismo, ganhou vários prémios e escreveu vários livros e artigos sobre o desporto, para além de ser um reconhecido ator de hollywood).
Comecei a treinar, a gostar e a sentir-me bem, e comecei a descobri que havia mais por detrás disto, que havia maneira de competir por causa disso, comecei a seguir muita gente no fisiculturismo, comecei a admirá-los e fui ganhando a vontade de competir também.
De que forma o desporto teve influência no teu físico e no teu psicológico?
Como é estar no Bodybuilding de forma amadora? Em que patamar te encontras para começar a competires?
Eu mudei recentemente de treinador, sendo que sentia que o meu físico estava estagnado. Alterei há cerca de 1 ano para um que é uma das minhas maiores inspirações e referência em Portugal. Neste ano tive uma grande evolução, ele sabe que quero competir e estamos a trabalhar para ser o mais rápido possível. Ainda não aconteceu, mas prevejo nos próximos anos.
Podes falar-nos um pouco de como tudo funciona? Quantas vezes por semana treinam? Quais são os principais objetivos?
Neste momento estou a treinar 6 vezes por semana, só descanso 1 dia. Tenho a dieta que tenho que seguir à risca, mas posso comer uma asneira por semana. Estou na fase de emagrecimento, de secagem. Tenho que me organizar muito, sendo que estando num curso que me ocupa muito do meu tempo, tenho que levar marmita para comer há hora de almoço.
"Apesar de já não sermos muito criticados por isso, ainda existem alguns olhares pela alimentação que levamos e apesar de já ser mais normalizado, as pessoas ainda não entendem completamente. "
Para além de que faço toda uma programação de horários para comer e nem todos têm essas horas e eu também quero tempo para desfrutar com os meus amigos e família.
O desporto assim acaba por fazer parte do teu dia a dia e da tua vida.
Eu no inicio olhava para isto como um hobby, mas agora é um estilo de via, é algo que faço diariamente e que se não fizer, não me sinto bem. Faz parte de mim e é o que mais gosto.
Em competições futuras, poderão haver algum tipo de entraves pelo facto de seres um homem transexual?
Como é que achas que serás visto pelos outros concorrentes?
É uma coisa que me dá um pouco de receio, mas quero acreditar que as mentalidade hoje em dia estão diferentes.
"Apesar de que há critica e preconceito na mesma, mas quero pensar que se no ginásio nunca me senti mal, nunca fui posto de parte e pelo contrário sempre me fizeram sentir bem; toda a gente vai ser assim também. Mas sei que provavelmente não será. "
Basicamente, depende das pessoas com quem te irás cruzar.
Lá está, o que estou habituado no ginásio é uma coisa, mas eu não sei com que pessoas eu vou dar de cara. O quão competitivas elas são e o que elas vão fazer para destruir o psicológico de alguém, porque há pessoas assim, para conseguir conquistar um lugar, rebaixam o outro. Apesar de ser uma pessoa mais segura, ainda tenho muitas inseguranças.
Já falaste sobre a Testosterona, e queríamos entender um pouco mais se notas alguma limitação ou vantagem perante os teus colegas, na prática do desporto.
Ainda não fiz toda a transformação, contudo a testosterona para além de uma questão mais estética, também ajuda a ficar com um corpo melhor, não vou dizer que não. Um homem que tem testosterona tem essa vantagem, sendo natural ou não. Por isso é que as mulheres não ganham tão facilmente músculo.
"Eu sou igual a eles, estou no mesmo patamar, a não ser que alguém ponha mais do que deve."
Existem grandes atletas em Portugal e acho que temos que dar um passo de cada vez para lutar pelos nossos sonhos. Eu vou começar por baixo e começar a subir. Primeira competição vai ser uma experiência... só estar no palco, nem o prémio em si, chegar lá já é uma vitória.
Quais são os teus objetivos para o futuro? O que pretendes alcançar?
Se eu pudesse, um dos meus maiores sonhos é competir no Arnold Classic, é uma competição a ver mesmo com o Arnold Schwarzenegger (competição que homenageia o fisiculturista). Eu gostava de competir e conhecê-lo seria uma grande vitória para mim. Se pudesse até passar de amador para profissional, gostava muito, mesmo que não seja algo que consiga fazer toda a vida, eu quero competir o maior nº de vezes possíveis e conquistar o máximo que puder.
"Quero que alguém fale no meu nome e saiba quem eu sou. E também fazer com que pessoas como eu e que tenham este sonho, não acham que seja impossível."
O facto de eu ir lá, perceberem que é possível e que não é por ser transexual que não deixamos de poder e temos potencial para chegar lá.
Para terminar, para quem, tal como tu, fez a transformação, consideras que poderá ser um bom desporto para entrarem e praticarem? Qual o teu conselho?
O meu maior conselho é que ninguém desista e por mais que seja difícil, não é impossível. Não vão ter resultados de um dia para o outro e terão que fazer isto todos os dias, todas as semanas, todos os anos até conseguirem resultados. Não podem é desistir ao primeiro obstáculo e não ligar ao que os outros dizem. Se a pessoa tiver melhor que nós não interessa, se nós estamos melhor que no dia anterior é o que interessa. Devemos preocupar-nos com nós e não com os outros.
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